terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

VOLTA AO TRABALHO!!!!!!

É hora de voltar às atividades! E para começar coube ao dono deste blog juntamente com a professora Amélia, fazer o repasse do curso “Olimpíadas de Língua Portuguesa – Escrevendo o futuro”, do qual participamos no ano de 2009. Já que os professores presentes representavam as várias disciplinas escolares, e não especificamente professores de língua portuguesa, direcionamos a apresentação para uma discussão sobre gênero textual, tipologia textual e sequência didática, no intuito de dar uma noção preliminar sobre esses assuntos.

Independente do lado “competição” que o trabalho com as olimpíadas traz (já que os melhores textos serão classificados e premiados) considero o material distribuído pelo MEC muito interessante para desenvolver boas oficinas de escrita e leitura. Entretanto, aos professores que o utilizarão recomendo alguns cuidados.

Primeiro, o volume “Se bem me lembro...” propõe, através de uma série de atividades, a produção de um texto de memórias. O material trata o texto a ser produzido ora como memória, ora como memória literária. Há uma diferença latente entre os dois textos, já que uma memória pode ser um simples relato de algo que aconteceu e uma memória literária implica em um texto em que a linguagem necessariamente precisa de elementos literários (figuras de linguagem, descrições subjetivas...) para causar certas sensações no leitor.

Nesse sentido, o material faz breve alusão à memória literária como algo que traga à lembrança “sensações, impressões e informações captadas pelos nossos sentidos: cheiros, sabores, formas, cores, texturas, sons”. Dotar o aluno dessa capacidade de desenvolver uma linguagem literária não me parece algo tão simples. Implica sim, em um trabalho de maior duração com a escrita e, principalmente da leitura dos gêneros literários.

O material não traz um trabalho específico para que o aluno possa entender a diferença da linguagem dita “literária” da não “literária”. O aluno que é um leitor de carterinha terá sensibilidade para produzir um texto que cause certas “sensações, impressões..” de forma até intuitiva. Já aquele não muito afeito à leitura terá mais dificuldades. Isso quer dizer que devemos ter cautela ao avaliar esse quesito, já que a capacidade de entender e de utilizar a linguagem literária está ligada às experiências de leitura e análise e, certamente, o material de “Se bem me lembro..” por si só não dotará o aluno dessa capacidade.

Outro aspecto a ser mencionado é quanto ao “Na Ponta do Lápis – 11”, também contido no maleta das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Na página 6 e 7 aparece um “quadro síntese dos gêneros textuais e seus respectivos agrupamentos”. Como agrupamentos aparecem “argumentar, expor, instruir, narrar, relatar”. Parece-me que há aí uma confusão entre função social do gênero e sequências tipológicas que o compõe.

Entendemos que a função social do gênero está ligada a intenção de comunicação, o objetivo de existir determinado gênero, a relação que ele tem com os seus leitores que pode ser sim a de “argumentar, expor, instruir, narrar, relatar”. Já a tipologia é a maneira como determinado gênero organiza sua linguagem, dentro do gênero, através de sequências tipológicas que podem ser: narrativas, descritivas, expositivas, argumentativas, injuntivas e preditivas.

Nesse sentido, um gênero textual pode ter a função social de “narrar” um acontecimento e utilizar-se da sequência tipológica “narrativa”. O importante é perceber a diferença do que é função social do gênero e do que é a sequência tipológica desse gênero.

Não quero com essas reflexões passar a idéia de que o material das “Olimpíadas da Língua Portuguesa” é impróprio para a utilização em sala de aula. Quero sim afirmar que cabe ao professor um olhar mais crítico sobre todo e qualquer material pedagógico que utilize, no sentido de adaptá-lo, modificá-lo ou acrescê-lo de acordo com as necessidades e objetivos que deseja alcançar com seus alunos.